sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Análise de Caso / Há tempos

“Eu não tenho tempo!
Ele não é meu e nunca será de minha posse.
Será que ele me tem?!
Só sei q ele some, evapora furtivamente,
é altamente volátil.”
Havia escrito há algum tempo atrás.

Continuava sendo verdade, continuava aflita por nada conseguir fazer e ser diariamente engolida por esse grande desconhecido. Até o dia em que finalmente compreendeu sua patologia: Criará uma imagem irreal, apaixonou-se por ela.  

Assim como nos desenhos animados, só caiu após ver que pira em falso. Até então estava tudo certo, exceto pela mania de acreditar no pior. Seu lado pessimista torcia pelo fracasso apenas para dizer: “Lhe avisei”.

Passado o tempo, descobriu que se apaixonara pelo impossível, apaixonara-se pelo Futuro. Acreditava não possuir o Presente, acreditava que nunca daria certo com esse, enquanto este era o único que sempre estivera a seu dispor. Enquanto isso, ela buscava incessantemente o Futuro que nunca olhou para trás enquanto ela o perseguia.

 Mantinha também um relacionamento aberto com o Passado, sendo, no entanto algo mais físico, no qual não conseguia resistir a todo aquele alinhamento, aquela postura esguia, seu extenso vocabulário e toda erudição e formalidade.

Até que enfim viu que o Futuro era nada mais que um escape, um escape para um lugar distante, onde via projetada alguém que não era ela, onde seu pensamento adito insistia em estar, insistindo em não ver o Presente.

Percebera: Não adiantava em nada gostar do Futuro, era inalcançável, só lhe frustrava, estava viciada nessa frustração, na verdade usava essa desculpa para não se entregar ao Presente, mentia para este, mentia para si mesma.

Despediu-se de todos,
Especialmente de sua melhor amiga,
Amiga de longa data,
Velha e fiel Ansiedade
Assim resolveu aceitar o Presente.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Miopia

De tanto olhar para o micro
Deixará de compreender o macro
De tanto olhar no microscópio
Não reconhece mais os de sua própria espécie
Esqueceu de quem seria
Como um ser em sua totalidade.
Compreendia as micromoléculas,
Mas não compreendia sua própria conformação
Compreendia Neurobiologia
Não compreendia o que pensava

Buscava evidencias apoiadas em dados
Buscava confirmação por análises estatísticas
Não acreditava nem que sua existência
poderia ter resultados significativos
Com o passar do tempo,
Desenvolverá miopia.
Se concentrado no que poucos contemplavam
Não conseguia admirar aquilo que lhe cercava.

A beleza que se dissipava em meio a todos
Não percebia a beleza que em torno de si existia
Aquela a qual auxiliava compor
Em todo seu esplendor e harmonia
Apenas vultos e artefatos compreendia.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Seguia

Seguia ela o caminho,
Já não sabia mais para onde ia,
Não mais lhe conhecia
Seguia só,
Seguia com um alguém,
Seguia com outro

Ninguém entendia
O que ela fazia
O que ela queria
Nem ela mesma

Seguia por ruas vazias
Seguia por estradas de chão
Seguia por vilarejos
Ouvia sons, mas não os compreendia
Ouvia passos, mas estava sozinha
Amava seu delírio
Não era correspondido

Delirava então que amava
Quem?
Ela não sabia
Sentia-se então culpada

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Abnego

Abnego de ti.

Abneguei em muito nos últimos tempos.
Abneguei de meu lar,
Minha estabilidade,
Minha sanidade.

Abneguei-me de minhas mentiras,
Abnego-me agora das tuas.

Passado o tempo vi que não conseguiria
mais viver minha vida daquela forma, 
não aguentaria mais meu corpo preso aqui, 
estando minha essência distante, 
contigo em outro universo.

Abneguei inclusive de mostrar-me 
tal como sempre quis: 
inatingível, inabalada;
No entanto,
mostrei-me como sempre
foi de meu agrado: com convicção e determinação.

Percebo que a teoria mostra-se diferente da prática.
Percebo que a imagem construída, desmorona, se liquefaz.
Percebo que talvez tudo aquilo que me encantou,
talvez fosse,
apenas um delírio incontido dentro de si mesmo.

A letargia manteve-me por todo esse tempo,
Adita neste placebo, agora revelado.
Fim do teste de duplo cego,
O qual se mostrou estatisticamente significante
Para o tubo branco.

No entanto.

O que seria o fim,
Senão um começo
de trás para frente.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Restaura-se

“O que procura você naquilo que já conheces?” – perguntou-lhe

“Procuro aquilo que já conheço porem que havia esquecido, cansei de procurar em corpos, copos, ambos sempre vazios, em calçadas na frente dos bares lotados... At last He used to like me... Não tem como procurar algo profundo na vazão de todas essas relações, não há como encontrar nada, estou eu e somente eu, eles estão acompanhados, eu estou na companhia das minhas próprias ilusões no canto a observar, porem sem me comover.”

“Disfarças bem neste canto” – interviu.

“Gostaria de ter o que disfarçar;
sou meu próprio disfarce,
sou minha própria marginalidade,
sou o reflexo de toda austeridade.”
– declamou para sua dose de bourbon.

“Sou a sobra que ofusca
seu próprio brilho,
sou todos os desatino,
Sou a torcida por todos,
Os quais torcem pelo meu fim.”

“Sou aquilo que acabará
por confiar naquilo que,
por ela, deixou de ser,
Cairá em sua própria armadilha
Com o sentimento de Déjà Vu "

“Compreendo... Mas e aquele seu problema de ansiedade, resolveu?” 
– Mais uma vez lhe interrompeu.

“Minha ansiedade ainda existe
Antes esperava pelo melhor
Agora ela continua
Mas não vejo muito além.”

“A gente costumava ser amigo, porque você sumiu?”

“Eu não sumi, você que nunca mais apareceu....”
–Respondeu, pela primeira vez sem interromper lhe.
“...Nem para si mesmo...” – Concluiu baixinho.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Autodestruição

Procurou, encontrou, no fundo sabia estava correndo seu fígado e por isso bebia, sabia que no fundo não tinha motivos para comemorar. Acreditava ter que descer até o fundo do poço para poder se reencontrar. Afastou-se de tudo e de todos, se juntou a desconhecidos, desceu ao subterrâneo, dizia procurar aventura, dizia procurar pessoas, no fundo só queria a escuridão e esquecer-se de si mesmo.

 Dia desses cambaleando pela rua escura encontrou um velho conhecido, velho amigo, um dos poucos que ainda se importava, não viu este, não via nada, não se importava com nada, não temia, buscava sabotar a si mesma, não se importava, não queria ninguém que se importasse. Fechava-se em si, ria esquizofrenicamente por fora, gritava desesperadamente por dentro. Buscava alguma coisa destruindo-se assim, talvez remissão, autoflagelação, talvez ressurreição, talvez se tornar fênix.

Sabia que poucos eram o que viam sua queda, poucos eram o quais compreendiam sua alma vendida, trocada por uma garrafa de gim barata. Um preço justo por um fracasso, um preço justo por uma perda tão fútil, um preço de quem não sabe quem é não conhece o valor que tem, preço de quem foi até o inferno e voltou no mesmo dia, mas que nunca seria permitida a entrada no céu.

Olhava para baixo, para onde iria estar em breve, ao fundo, cada vez mais profundo... Surge na sua frente uma mão, não saberia dizer ao certo de quem. Pega nesta e levanta. Olha para cima e lá estava a velha companhia, não acreditara, levantou-se tentou parecer menos mal, envergonhou-se.

-Tudo bem agora, vem, vamos para casa, farei um chá. Arrumo-te uma banheira, trouxe algumas roupas que havias deixado lá em casa quando costumávamos nos encontrar e passar as tardes a filosofar, tem uma cama lá te esperando.

Ela partiu, estava trilhado o caminho de Dante partindo para o limbo, em direção ao paraíso.

Dia Ensolarado

Não sabia se era o sol ameno sobre seu corpo, a luz do dia incidindo em seu rosto, o vento suave em seu cabelo... Componentes daquele dia muito bem desperto ou se seriam os resquícios da noite passada; muito bem pouco dormida. Sabia apenas que se senti bem e com isso parecia compreender a essência do universo, sem precisar se perder em meio à física e a filosofia. Toda a filosofia da vida fazia parte dela. Sentia-se flutuando, voando baixo, sua mente voando alto, sua essência em órbita, a emanar de si e preencher os locais abertos. Não havia tomado o costumeiro café, não havia ingerido doces, senti-se sonolenta e muito desperta em meio a uma atmosfera onírica.

domingo, 2 de outubro de 2011

Holometábolo

Deu-se a metamorfose, não tal como a de Kafka, de forma alguma, não tinha a menor semelhança com espécie nenhuma de coleóptero. Todos comentavam sobre sua mudança, ela o contemplava também, entretanto demorou a se convencer, de fato, que não era mais a mesma.

 Sentia que poderia ir mais longe, empolgo-se e caiu, resolveu ir com calma e adaptar-se a essa nova condição de ser alado. As formas eram outras, seu modo de vê-las também. O sorriso que povoava seu rosto era mais constante e mais firme, não mais apoiado nas muletas do surrealismo. Agora tudo parecia mais sólido, palpável, tudo parecia ter mais forma.

Mas o surrealismo também esteve lá, onde as vontades se transformam em verdades tão logo são concebidas já se encaminham para o plano do real. Era tudo uma questão de tempo até sentir-se ambientada a sua nova situação. Tudo sempre foi questão de tempo: Torna-te quem tu és.

domingo, 18 de setembro de 2011

O Reencontro

Ela reencontrou seu passado, conversaram por algum tempo. Nem muito, nem pouco, o suficiente. Ele lhe mostrou aquilo tudo que ela havia esquecido, mostrou-lhe seu verdadeiro reflexo. A fez parar de acreditar em suas próprias mentiras, trouxe a tona tudo que ela já sabia.

Ela não lhe disse uma palavra, deixou que ele contasse as novidades de sua vida, a vida dela. Ele lhe contou tudo que estava passando na vida desta, seus desejos, suas vontades, seus sentimentos... Relatando a vida dela com mais precisão do que ela mesma, ele via de fora, de dentro para fora, via através de tudo.

Ele era um velho conhecido, falava com um sábio, falava como quem tem uma longa trajetória, como quem vem de longe para mostrar o que não se quer enxergar. Contou os pequenos segredos escondidos em meias palavras... E assim partiu, transformando tudo para como na verdade é. 

Torna-te quem tu és

domingo, 11 de setembro de 2011

A Alpinista

Há seis anos na beira do abismo,
Há seis anos pendurada por um fio,
Finalmente:
a
Q
U
E
D
A

. Ao rolar pelo precipício, muitas coisas ela trouxe para baixo consigo.

Já havia sido alertada por outro alpinista dos perigos; este conhecia a prática, diferentemente desta que sabia muito, mas apenas da teoria, da observação, de anos de estudo... Os quais caíram por terra ao lado dela.

Ela havia se voluntariado a queda, era a única forma de tentar escapar, de sair daquela situação... Era arriscado, mas caso ocorresse tudo como ela desejava, conseguiria subir e finalmente chegar ao topo, finalmente poder descansar... Poder, enfim, admirar sua conquista, a bela paisagem, passar a noite lá em cima, ver as estrelas e voltar para casa com uma alegria que em si mesma não caberia.

Mas infelizmente, sua busca desesperada por uma forma de sair daquele impasse foi errada, e lá está ela a descer o morro, levando consigo pedras e terra, tentando inutilmente se agarrar na vegetação, levando esta consigo, para fim do abismo.

Sentiu então sua pele dilacerar com as pequenas pedras em sua pele cravar, sentiu o atrito, sentiu a ardência. Não tentou mais escapar, achou melhor aceitar. Por muito tempo havia pensando no que fazer; agora não a restava mais nada senão sentir a queda. Buscou então alguma volúpia masoquista recordando-se de uma frase contida em um dos romances do sábio Goethe “Não há alegria sem dor, dor sem delícia”.

Só lhe restava esperar a queda acabar, reunir suas coisas e partir. Ir para casa desinfectar suas feridas, verificar o que foi quebrado, tirar toda a terra de si... Borrifar álcool 70° com um sorriso sarcástico e aguardar a cicatrização, enquanto isso: aproveitar. Verificar que de fato há sangue em seus vasos, verificar que de fato continuar viva. Aguardar o retorno, contar para os amigos. Mostrar as cicatrizes e ouvir a velha pergunta “Mas valeu a pena?”. Não encontrar resposta, não há resposta, não nem o sim, nem o não estão corretos, não há certo ou errado.

Por fim, brindar o fracasso com uma água tônica e sentir o sabor da vida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Anamnese

Ela adentrou o consultório com um medo quase infantil, roupas adolescentes, um jeito desalinhado, cabelo despenteado e olhar indiferente.
Sentou no divã como quem senta na cadeira do dentista, sem dirigir nenhuma palavra ao analista...
(Psicólogo, psicanalista, psiquiatra... Nem ela mais sabia; poderia até ter recorrido, por engano, a um neurologista ou neurocientista...)
Sentou-se de modo sem jeito e seco; sentindo-se como uma mulher em sua visita rotineira ao ginecologista... Sentia-se tanto ou mais exposta que em tal circunstância.

domingo, 21 de agosto de 2011

Domingo

Dia cinza, frio, chuvoso, sonolento,
Típico domingo, 
Conversas que não se desenvolvem, 
Tão logo são abortadas espontaneamente.

Janela embaçada escondendo nossa própria solidão,
Escorrendo como o tempo.

Nosso tédio interior e falta de vontade de mudar,
A falta de ter uma opção para telefonar 
E com ele dividir um vinho ou um capuchino. 

Nosso e, ao mesmo tempo, apenas meu.

As pessoas bem vestidas passeando sob o forte vento
Tentando esconder atrás de tanta roupa e maquiagem
O seu eu devastado e sonolento.

Vão ao shopping preencher-se com futilidades,
Ou assumem sua condição e
Dormem ignorando a existência
Assumindo suas fraquezas.

Dividimos as mesmas concepções,
Mas não mais o mesmo recinto.

A umidade diluindo a essência; 
Deixando-nos aguados... 
Nada inesperado.
Mais um dia sem novidades, 

mais um dia almoçando as três da tarde.

Cair da noite

E então
A depressão instantânea
Véspera de segunda-feira,
Onde a solidão torna mais reclusa,
Escondida dentro de cada ser,
Que diz bom dia.

domingo, 7 de agosto de 2011

A Epístola

Deu-me vontade de enviar-lhe esta epístola
Para que ela esteja aonde não pude estar,
Para que ela seja tocada e sentida por ti,
Para que ela se misture as suas coisas
E seja guardada em um canto obscuro,
Mas não perdida,
Para que ela leve uma parte de mim...
E esta, esteja contigo.

Tentando que esta leve tudo que eu sinto,
Faça-me esquecer tudo isso,
Que me perturba noite e dia.

Para que essa parte de mim,
Seja, dentro da gaveta, esquecida.

Seja reencontrada em alguma limpeza
E dela surja apenas um sorriso,
Como quem acha algo há muito tempo guardado,
E se lembra de um tempo que não volta mais.

Que fique ela junto aos teus livros,
Junto com a inspiração dos mortos,
Que em mim tu tornaste viva.

Entretanto, está carta não tem endereço,
Seu destinatário será apenas algum canto na minha gaveta:
Um lembrete para parar de agir como uma idiota.

Poderia apagar-te de todas as lembraças
Todos aqueles pequenos detalhes,
Os quais insistem em debochar de minha atual situação.

Mas de nada adiantaria,
Minha própria mente iria continuar
A sabotar-me diariamente.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A Viagem

Faz tempo que ele se foi... As coisas mudaram tanto, entretanto, ao mesmo tempo parece que toda a minha vida continua a habitar de forma cíclica aquele mesmo dia, aqueles mesmo minutos de eternidade até hoje.  A questão de como tudo seria hoje se eu não tivesse o deixado ir, faz-me sentir como se ele continuasse aqui.  Queria falar com ele, na verdade já havíamos conversado sobre isso tantas e tantas vezes... A questão é que desde que ele foi embora vivemos nossas vidas como se aquilo jamais tivesse acontecido, exceto eu.

A maioria das coisas se apresenta apenas uma única vez, a pressão para tal acaba por fazer parte da escolha, dependendo da personalidade de quem decide. A oportunidade de acontecer algo se apresenta e se despende, e por mais que pense a respeito, nunca saberemos ao certo o que teria sido melhor. Aceitamos o presente então de forma consoladora e passamos a fingir acreditar que realmente era para ter sido assim. Aceitamos o presente e agradecemos com um sorriso mais forçado do que o de costume, agradecendo sempre simplesmente pela data não ter passado em branco.

Às vezes um não é mais tranqüilizante do que a angustia de não saber, as duvidas sempre trouxeram muito progresso, mas pelo fato de elas serem de fato incômodas... Então tentamos entender tudo, porém, nem tudo cabe a nós entender, nem tudo nos é aceito ou compreendido, comigo geralmente apenas um desde. Comigo sempre o conflito eterno do lobo frontal com o sistema límbico, onde sempre haverá um perdedor que jamais esquecerá sua derrota.

 Conversamos a respeito, conversei mesmo já sabendo a resposta, resposta puramente racional, as perguntas puramente emocionais. Mas ao final, um quase empate, nenhum deles ficou extremamente frustrado, ambos gostaram de alguma parte da conversa, apesar do saldo negativo ao menos a dúvida e a ansiedade foram sumindo, juntamente com a chuva e a louca vontade de correr pelas ruas sentindo-a sob meu corpo e inundando minha alma, até a exaustão, a fadiga muscular, a dor, mas, ao mesmo tempo, toda endorfina, por fim o dormir no asfalto e o acordar com pneumonia e dor nos ossos e articulações.


No fim nada mais que memórias e algumas poucas certezas.
Afinal é a memória que torna viva muitas coisas que sem ela não existiram mais.

Estado de espirito: tal e qual uma obra de Edward Hopper.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ode a Curitiba

Acordei com um pombo batendo contra minha janela, exatamente 3 minutos antes do meu celular despertar... Para minha sorte já havia sido alertada para este fato dias atrás quando uma delas quase adentrou meu quarto, caso contrário, poderia ter sido bem pior... Umas das coisas que não gosto nas cidades grandes são as pombas, aqui elas que vem me acordar ao invés dos pássaros das cidades pequenas.

Amo essa cidade, mesmo não sendo minha, já que não nasci aqui, mas sinto que ela pertenço sendo está interiorizada em meu ser mais que qualquer outra...  Mesmo não tendo lembranças distantes e ser uma pessoa nostálgica, isso não a diminui em nada meu sentimento. As cidades em que passei períodos mais distantes ou nunca mais vi ou mudaram muito... Não sou daqui, mas sinto como se tivesse nascido, crescido e morrido nesta terra... Logo comigo que era tão Catarinense... Lá costumo me encontrar perdida, sem referências. Me encantei por este lugar desde a primeira vez que o vi e no fundo já sabia que viria para ficar.
Amo o centro, Centro Histórico com toda aquela nostalgia pulsante, transportando para um período há muito esquecido, O Paço da Liberdade com seu café Cult e incrementado, o Largo da Ordem e suas ébrias lembranças, o andar cambaleante pelas pedras irregulares do antigo calçamento... A Riachuelo com seu cheiro tão peculiar de móveis antigos... Aquele cheiro de madeira crua transporta-me para um passado que nem eu mesma conheço... A Praça Santos Andrade: Minha vista de todas as manhãs, UFPR prédio histórico... Quanta inspiração... Somada ao sonho de um dia, quem sabe, fazer parte daquilo... E agora fazer...

Logo mais para frente à Reitoria... Oh, quantas vezes me derrubastes, me carregastes para um mundo paralelo, me destes a sensação de um amor mal resolvido que iria insistir por anos em invadir meus pensamentos... Todas aquelas pessoas tão estranhas para os outros, tão semelhantes para mim... O ogrobol... O DCE com suas paredes forradas de tantas coisas, tantos pensamentos, tantas ideologias, uma frase de Leminski... Assim como vejo vez que outra na parte da Arquitetura do Politécnico... Politécnico seus gramados tão desejados, o cheiro da grama quando recém-cortada, o cheiro de mato tão raro, tão ressaltante, tão apaixonante... 

Os lugares turísticos os quais para mim sempre terão o mesmo encanto desde a primeira vez que os vi, o modo de vida peculiar da cidade, tão semelhante ao meu, tão rude, reservado,  seus hábitos típicos, seus inverno rigoroso acompanhado de um quentão da Praça Osório se torna algo bem-vindo. Essa cidade exala um cheiro de cultura. Tão próprio... Aqui posso discutir Literatura, Filosofia, Sociologia que as pessoas costumam ler, costumam ir ao teatro, costumam não me achar um aliem como na minha cidade pequena, provinciana, tomada por pescadores onde ao citar Nietszche as pessoas ou se benziam ou desejavam saúde...

 Adoro ir na XV e ver o povo... Sempre tão peculiar... As figuras ilustres como o Oil Man, na faculdade ainda tem o Dance Boy... Todos de algum modo ligados ao estudo da vida... Sinto que tenho a possibilidade de me tornar um personagem semelhante, caso eu acabe não resistindo e ficando passando a linha da loucura considerada normal...

Sinto-me em casa, nesta cidade, mesmo não tendo nenhum parente por perto a grande maioria dos meus amigos são daqui, os quais todos nasceram, cresceram aqui estão, daqui reclamam, mas também partilham tão intenso sentimento. Sair e ir para o Largo é sempre tão bom, mesmo que seja para ir ao mesmo bar, ouvir a mesma banda, com os mesmos amigos, na verdade é assim que eu gosto mais. Dia desses resolvi sair em Balneário Camboriú... Fui ruim como sempre é... Lembro-me de ter gostado apenas em duas ocasiões, geralmente acontecem coisas ruins... Mas isso é outra história, vou indo, pois já falei demais por hoje.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Geada e Neblina

“Você tem que mudá o finar da minha história” dizia a voz dentro dela. Acordará de forma nebulosa, dia com cerração baixa, daqueles dias os quais é difícil acreditar na sabedoria popular “cerração baixa, sol que racha” na verdade... Pensando bem... Isso nem rima. A neblina encobria a cidade, parecia que noite, mas era o inicio do dia, que pelo visto nem teria começado. Pensará ela então o porquê dessa frase em sua cabeça, a frase do filme dublado, aquela dublagem tão engraçada e patética, que faz esse suspense se transformar em comédia, tal qual sua vida a qual também vinha sofrendo com tal metamorfose.

Acorda, prepara o café, liga a TV, descobriu quanto estava valendo o quilo da soja, descobre a cotação do dólar, coisas tão longe da vida dela, mas ao mesmo tempo tão presentes. Acordará mais cedo, para aproveitar melhor o dia. Tomara café, sentará e observara o movimento, a bela vista histórica de seu apartamento, tão velho quanto. Observava as pessoas a andarem rapidamente todas encasacadas, o relógio marcando -2ºC, e ela acordada, em frente à janela “suada” nada por fazer, quis acordar mais cedo apenas para ter mais tempo para não fazer nada.

 Lembrou da voz daquele carinha nerd a lhe dizer que o tempo ocioso é tempo desperdiçado, pobre garoto esperto, dito tão inteligente, mas com tanto para aprender... Para ela esse era o único tempo realmente vivido, dedicado única e exclusivamente a viver, voltando à atenção para o mundo que o cerca...  Para seu verdadeiro ser e não para se sustentar, ser forçado a aprender, nunca deixamos de aprender, só tornamos o aprendizado chato, cansativo e pragmático, menos filosófico e mais objetivo, o deixamos desnudo e gélido para então devorarmos. É isso que as escolas fazem, sempre fizeram. Gostava muito de aprender, mas de maneira descompromissada, de maneira romântica em baixo de uma arvore, no tapete da sala, não em cima de uma mesa, com uma cadeira dura e fria em um lugar tão bem iluminado. 

domingo, 26 de junho de 2011

A Tranquilidade do Mar

“Parece-me que ao me debruçar sobre o passado posso tocá-lo, mera ilusão lendária para fazer-me morrer afogada ao ver meu reflexo deturpado.”

Voltei, voltei para passar alguns dias. Relembrar o tédio adolescente... Esconder-me novamente... Dentro do meu quarto com meus amigos póstumos, esconder-me de toda humanidade, de todo o frio do lado de fora.

Voltei aos velhos dias e entendi porque sinto que o tempo tem passado tão rápido. Aqui ele congela, se esvai lentamente, as horas daqui são como dias de lá. Após a maioridade não os  vi passar, mas isso não deve ao fato de ter crescido, mas sim por ter me mudado. O tédio me consome como as batidas da onda do mar hipnotizam. Não sei como consegui viver tanto tempo aqui... Tanto tempo, tanto tédio, sem desenvolver nenhum tipo de adição ou doença psíquica. Somente desenvolvi meu afastamento social e fortaleci minhas amizades com esse povo que já partiu desta há muitos e muitos anos.

Agora é o momento que me perguntas por que então não volto para meu quarto, revejo as velhas amizades e paro de reclamar?! Estou de férias, de fato não quero me ocupar. Minha mente pelo menos não. Gostaria de ocupar-me sem grandes afazeres intelectuais.

Meus amigos se mudaram, alguns até já casaram e pensava eu que as pessoas não faziam mais isso... Outros já me esqueceram, de alguns eu mesma custo a lembrar, a maior parte, meros conhecidos com alguns trechos na minha vida, muitos com um espaço grande lá dentro. Nenhum aqui nem agora.

 Acho que vou voltar lá jogar bisca com meu avô, tomar um chimarrão,  ver sua nova velha invenção, ouvi-lo exaltar as belezas da natureza; ouvir as lembranças hipocondríacas da minha avó, seus comentários de como estou magra, o seu oferecer de pão, cuca, bolacha, chá, suas histórias e suas nostalgias, diferentes das minhas. Pois é isso também disso que eu sinto falta e faze-me sentir em casa. 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Coisas que só acontecem comigo, parte 6

Sabe o que é estar na hora certa no local certo? Bem... Ás vezes é mais ou menos assim...

Antes disso... Não, você não postei a parte de 1 a 5 no blog, mas não quer dizer que não aconteceram, é que apenas essa resolvi relatar. Irei mais uma vez quebrar um pouco com o estilo e com o padrão deste blog, não abordando mais memórias ou nostalgia, mas sim algo que me aconteceu hoje, abandonando um pouco a narrativa descritiva e partindo para uma crônica de mais um dia.

Tudo certo para a viagem, férias, férias, férias, mal poderia esperar. Tudo planejado, sair as 11:21hs da prova para da tempo de pegar o ônibus, passar em casa, passar no Subway pegar um sanduiche e correr para pegar o ônibus das 13:15 hs. Quase perdi o horário do ônibus, sai 11:24 hs da aula, se perdesse esse ônibus não chegaria a tempo de pegar a mala, pegar o lanche e ir para a rodoviária. E qualquer menor deslize era o fim. Um pequeno atraso atrasaria outra coisa e tudo cairia por terra, tal e qual um daqueles dominós. Porque pegar esse ônibus tão cedo então? Evitar congestionamento. Além de férias é feriadão...
Pois bem, após alguns percalços e muita correria enfim cheguei, sentei no ônibus, estava já abrindo meu Kafka quando sou interrompida por uma senhora: “a poltrona 23 é minha” olho sua passagem, ela olha a minha... Sua passagem é só para dia 29, hoje é 22. Game over. Toda a estratégia foi perdida.

“Ô moço, comprei essa passagem aqui, mas comprei pela internet, vi errado o dia, sabe como é, muita “tecnoloxia, nene” a “xente” não tá “acustumatu””. Não, não falei nem assim, mas foi como me vi, uma senhora de seus 65 anos que viveu muito tempo na colônia tentando se modernizar.

Passagem agora para esse destino apenas as 23:30hs, senhora.Comprei então para a cidade vizinha.

Ao ir embora vejo uma guria que tentar retirar sua passagem para o mesmo destino que o meu “o ônibus acabou de sair”, agora só 23:30....

Poderia ter ido naquele... É... Estava na hora certa, no local certo, na semana errada.

domingo, 12 de junho de 2011

Ode a quem nunca mais vi passar

Nostalgia de andar sozinha pelas ruas, fim de tarde, fim de semana, domingo entediante, olhar para o meu caminhar, a sucessão de passos, all star furado, desbotado, a sucessão de poucas pessoas na rua, o passar do tempo esperando encontrá-lo...  Nada com ele marcado... Cidade pequena... Um único caminho, pelo domingo, ele haveria de passar. Coincidência fácil de forjar. Saudade desses encontros tão falsamente inesperados, saudades daquele sorriso tão amplamente sincero o qual estancava os esfolados adolescentes das minhas pernas finas cobertas por meias coloridas. Sorriso contagiante que mudava a cor da penumbra do anoitecer de um dia tão cinza. Os anos voaram como o tempo que levei para encontrá-lo ao dobrar aquela esquina.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O Soar da Campainha

Ela estava em casa, entediada quando escuta-a soar, escuta, uma, duas, três vezes... Sempre quem costuma tocar é uma amiga da sua companhia de despesas... Mas desta vez ela não está, logo não sabe bem o que fazer...  Se fosse na sua antiga casa, sabendo que a pessoa procurava por sua mãe e esta não se encontrava, apenas se fingiria de morta e continuaria esticada no quarto sem movimentar nenhum músculo estriado, apenas o cardíaco e aqueles necessários para a respiração. 

 Mas desta vez, na esperança de algo afastar seu tédio resolve atender: quem sabe alguma visita inesperada para retirar esse vazio da alma, para gastar essa energia que de tão acumulada se tornou inerte?! Seus amigos faziam meses que não a vinham ver, quem sabe alguém resolveu testar se ela ainda compartilhava esta sala de espera chamada Existência...

Mas tal atitude não era muito do feitio destes. E ela muitas vezes na solidão da antiga casa se deparava com o pensamento de uma morte sorrateira, com as vizinhas reclamando do fedor de putrefação, e sendo este o único indicativo de sua morte, além, é claro da falta do pagamento do aluguel. A vigilância sanitária sendo chamada, nada podendo fazer, a ordem de despejo... Todos os tramites legais, a porta arrombada enfim. A notícia no elevador do prédio, no jornal sensacionalista da cidade, aqueles em que se aperta e sai sangue... A violação de sua privacidade póstuma... Privacidade aquela tão bem mantida que lhe custou o esquecimento, de tudo e de todos. A notícia de sua morte utilizada então por um cachorro em algum canto da cidade ou viajando ao embalar alguma coisa mais frágil do que ela... Noticia descartável. A rede de informações a passar, fofocas, redes sociais... Até atingir alguém  que costumava conhecê-la, e então o franzir da testa, o sobrecenho enigmático, como se isto auxiliasse as sinapses... E enfim a recordação “Ah, acho que me sei quem foi esta... Ela era meio estranha, sempre andava rápido, as pessoas faziam piada dizendo que ela corria como o Naruto... Mas nunca vi ninguém falar diretamente com ela... Creio que fosse um tanto quanto anti-social, sempre estava no seu mundo com fones de ouvido ou com um livro do Dostoiévski... Morreu jovem, apesar de ter a alma de uma velha... Pobre criança.” Béééé! A campainha lhe trás de volta a superfície do mar gelado de seus devaneios.

A capainha tocava pela última vez, ela vai até lá, correndo, como se quisesse evitar aquele pesadelo imaginativo. Ela abre a porta e busca ver quem estaria lá como testemunha de sua existência. O ímpeto é dilacerado, mais uma vez, não era para ela. Era o filho mais novo da senhorinha que mora ao lado.
Pensa neste instante que a vida até pode ter seu sentido, mas não para ela. Quem sabe algum dia seja para ela. Dia no qual provavelmente alguém tocará na sua porta, provavelmente algum levando a palavra de D... Digo, da igreja a qual ela pertence. Ela e senhora D, derrelição... Mais uma coisa em comum, e ela volta a recortar seus peixes de papel pardo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

1/2 Pela Metade

Cidade vazia, fim de feriado, volta a rotina... Tédio, angústia, agonia... Solidão sem nem ao menos uma garrafa de vinho. Assim seguia eu ao ouvir os meus passos, coisa rara, efeito da redução do número de carros, onde quase consegue escutar os poucos pássaros... Quarta-feira de cinzas, cinza como o céu da cidade, um meio feriado, meias alegrias, movimento pela metade, um vazio desnecessário e sem sentido; eu a desviar do meu próprio caminho, marcando desencontros com desconhecidos. Muito por fazer, mas a vontade por insiste em se perder, flutua sob este céu poluído e frio, se esconde na noite vermelha da cidade, onde o progresso apaga as estrelas, camufla o abismo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Esvaindo-se

Ela fingia que lia o livro, mas na verdade pensamentos não a deixavam levantar vôo por aquela história. Ficava lá pensando naqueles dias não tão distantes... Ficava a reeler a mesma página com uma teimosia distraída.

O que seria aquela ficção perante a persistência daquelas memórias tão surreais quanto os quadros de Dalí. Aquele quadro surgira da espera...  Assim como a dela, que fingia ler enquanto ficava ali, tentando esconder atrás daquele livro, a ansiedade em vê-lo.

 A quem ela queria enganar?! O tédio escorria por entre aquela mesma página, a preguiça se apodera daquele corpo, envolvendo-a, formando uma áurea transparente. Que some de forma fulminante com o soar da campainha. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Passar dos Dias

Meu relógio biológico anda desregulado, mas não pela vida agitada, mesmo porque minha ansiedade tem diminuído... O tédio desregula meu sono...

Dormir é o que faz passar os dias, logo a noite não tem do que se ocupar, isso se dá pelo forte calor que ninguém consegue aguentar. Lá fora o sol que bate na cabeça produz cefaléia, o asfalto auxilia a manter a temperatura que representa ser o prenuncio do inferno em que se tornará a terra. Com essa rotina sem objetivo espero o passar dos dias, o passar do calor, o passar do frio, o dia perfeito para algo ser feito. Pena que este dia costuma tardar, a eternidade.

Mas vós, meus caros, nenhum de nós temos todo esse tempo, somos todos matéria orgânica, prestes a ser decomposta, prestes a fazer parte da entropia do universo, prestes a seguir as leis da termodinâmica.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Visita

A inspiração voltou como quem vem de longe... Como a brisa marinha trazida ao alto da montanha por uma chuva torrencial que vem lavando tudo... Com ela muitos detritos esquecidos. Veio sem perguntar se poderia, veio com muita bagagem, e eu, na condição de hospede, tendo que recolher as malas... Curiosidade mórbida pelos velhos presentes que estariam lá...

A visita era quase tão velha quanto eu, seu nome: Nostalgia, na sua áurea: medo e alegria. Sentimentos opostos que contrastam e tecem esse tapete de retalhos que eu escondia bem lá no fundo da casa, perto da lavanderia.

Esconder é ocupação antiga... Quando criança aonde tinha uma gaveta na qual escondia tudo que minha mãe falava que deveria ser guardado. Mas esconder não funciona por muito tempo... Um dia a gaveta ficou muito pesada, perdeu seu elo com aquela espécie de trilho onde deslizava e nunca mais se abriu. A força da criança era insuficiente.

Gavetas tais como as de Dalí que só a psicanálise poderia abrir? Quem sabe? Sei que já não ando mais tão à toa quanto aquela época, sei que já não absorvo mais tudo tão facilmente...

Passada a infância e adolescência... Agora quero saber a procedência de tudo: a fonte da afirmação, a safra do Cabernet Sauvignon, o qual na época não existia na minha vida, tomava em vez deste um vinho barato... Daqueles denominados tinto suave, ou seja, vinho seco com açúcar a qual maximiza seu enjôo na ressaca.

Ressaca na praia naquela onde pensei que as ondas teriam levado consigo os pedaços daqueles momentos com o vai e vem das ondas, assim como moem as conchas.