domingo, 11 de setembro de 2011

A Alpinista

Há seis anos na beira do abismo,
Há seis anos pendurada por um fio,
Finalmente:
a
Q
U
E
D
A

. Ao rolar pelo precipício, muitas coisas ela trouxe para baixo consigo.

Já havia sido alertada por outro alpinista dos perigos; este conhecia a prática, diferentemente desta que sabia muito, mas apenas da teoria, da observação, de anos de estudo... Os quais caíram por terra ao lado dela.

Ela havia se voluntariado a queda, era a única forma de tentar escapar, de sair daquela situação... Era arriscado, mas caso ocorresse tudo como ela desejava, conseguiria subir e finalmente chegar ao topo, finalmente poder descansar... Poder, enfim, admirar sua conquista, a bela paisagem, passar a noite lá em cima, ver as estrelas e voltar para casa com uma alegria que em si mesma não caberia.

Mas infelizmente, sua busca desesperada por uma forma de sair daquele impasse foi errada, e lá está ela a descer o morro, levando consigo pedras e terra, tentando inutilmente se agarrar na vegetação, levando esta consigo, para fim do abismo.

Sentiu então sua pele dilacerar com as pequenas pedras em sua pele cravar, sentiu o atrito, sentiu a ardência. Não tentou mais escapar, achou melhor aceitar. Por muito tempo havia pensando no que fazer; agora não a restava mais nada senão sentir a queda. Buscou então alguma volúpia masoquista recordando-se de uma frase contida em um dos romances do sábio Goethe “Não há alegria sem dor, dor sem delícia”.

Só lhe restava esperar a queda acabar, reunir suas coisas e partir. Ir para casa desinfectar suas feridas, verificar o que foi quebrado, tirar toda a terra de si... Borrifar álcool 70° com um sorriso sarcástico e aguardar a cicatrização, enquanto isso: aproveitar. Verificar que de fato há sangue em seus vasos, verificar que de fato continuar viva. Aguardar o retorno, contar para os amigos. Mostrar as cicatrizes e ouvir a velha pergunta “Mas valeu a pena?”. Não encontrar resposta, não há resposta, não nem o sim, nem o não estão corretos, não há certo ou errado.

Por fim, brindar o fracasso com uma água tônica e sentir o sabor da vida.

Nenhum comentário: