quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Lá e em outro lugar

Procure o melhor gramado da cidade, onde os lagartos vão passear, com pinheiros e sombra, um oásis em meio ao deserto, ao calor infernal que faz até a alma suar, lá ele comigo está. O lugar se torna melhor a noite, sob um céu limpo, abaixo do infinito estrelar, o cheiro etílico causa arrepios. O cheiro do vinho emana no ar a se espalhar com o vento noturno em harmonia com o som das ondas de Netuno a nos observar.

Distante de tudo, perto do imenso, talvez eterno e cíclico universo, deitada na grama sinto ele me chamar, poderiam as leis da gravidade sugar-nos?! Cairmos par cima e flutuarmos juntos, soltos, leves e eternos perto do tudo, longe do nada...

Com ele voltei no tempo, consegui estar de volta em um dos nossos primeiros encontros com toda aquela incerteza excitante pairando no ar, toda aquela duvida, aquele suspense que faze com que o tempo pareça infinito. O que parece nunca voltar de repente esbarra comigo em uma esquina sem pedir desculpas e fica na minha mente.

Dias depois o mar nos aguardava, as ondas traziam um movimento leve e iam me puxando, mesmo com água apenas até a cintura eu ia sendo levada, no meio do oceano eu flutuo e continuo a sentir esse movimento fluido, vejo uma lancha a balançar e o pé de um homem que dormiu com a nostálgica coletânea do Creedence.

Lá estamos nós dois na grama do infinito com uma garrafa vazia de vinho.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sons

Em meio a uma multidão de sons,
Onde nada se consegue escutar,
Ela estava parada com um olhar
aquele que busca alguém chamar.
Aquele olhar fixo para um conhecido,
o qual parece não notá-la.
A culpa é da multidão,
a qual atrapalha seus chamados
e pedidos de atenção.
Nesse mar de pessoas e solidão.
O único zumbido nítido é uma pré-adolescente,
- entediada como 11 em cada 10 deles –
ao esfregar seus chinelos no chão.
As linguagens se misturam, modificam-se
tornam-se dialetos desconhecidos e exóticos.
Como uma fenda que se abre,
E lhe transporta, para um país desconhecido.
Ninguém fala a sua língua.
Não há tempo, sentido ou espaço.
Apenas o delírio e deleite coletivo,
mudo e ensurdecedor.
Tudo se confunde no nada.
Em meio a bafurdia, eis que surge a inspiração.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Onirismo

Orgulhava-me de minha quitinete em Curitiba, ela tinha quatro piscinas diferentes e alguma grama, isso era a cobertura do prédio, de lá se tinha acesso a uma escada que nos leva a uma espécie de sótão todo de madeira escura, meio desbotada e marrom, telhado inclinado e uma enorme janela que permite uma claridade incrível. Ao abrir a porta eis a escada, e em suas paredes obras de arte – tal como no museu Oscar Niermeyer – subindo observa-se um único grande cômodo, meu quarto e minha casa, as cores me confundem, não me recordo se a escada teria uma parede vermelha ou se isso se daria no grande cômodo, mas de qualquer forma, o vermelho vivo contrasta com um azul um pouco mais vivo que o Royal.

O grande cômodo possuía uns puffes, um sofá com xadrez em tons escuros e uns riscos ocre, e um grande mural de metal com fotos minhas e da Isadora, as fotos se amontoavam, mal conseguia observá-las direito, além do mais, ao invés de imãs eram pressas por pregos. Comecei então a soltar as fotos, foi nesse momento que ela disse que me amava, conheço várias pessoas que dizem isso por qualquer coisa, mas aquilo já era demais.

Ela é namorada de um grande amigo meu, morria de um ciúme anormal por mim, até que naquele dia, meu amigo avisa que ela quer me conhecer. E eu, não sei porque, acho uma boa idéia apresentar minha casa a ela.

Começo a questioná-la sobre esse sentimento repentino, quando aparece um cara que nunca vi na vida, com uma guitarra e pergunta se alguém gostaria de ser sua vocalista, eu começo a reclamar com ele, pois logo o show iria começar e ele já deveria ter tudo pronto e blablablabla, ele sai pela sacada dos fundos deixando a guitarra preta e grandes fones de ouvido em qualquer canto. A namorada de meu amigo diz que tem que ir embora, depois de ficar surpresa com o sermão que dei no guitarrista. Eu lhe entrego uma flor preta de tecido como lembrança, é daquelas que se pendura em qualquer lugar.Ela agradece e sai, eu a levo até um pedaço e descubro que tem mais gente pelo meu jardim suspenso do que imaginava.

Percebo então que ele é um museu de fato, digo para ela que logo a encontro. Nas pessoas da multidão encontro um amigo meu de tempos, falo que moro ali e começo a querer sair com ele para desbravar, ele recusa, mas acaba por aceitar depois que percebe que não é obrigado a acompanhar o guia. Mostro-lhe as quatro piscinas, de tamanhos diferentes, com a água agora suja e sendo preenchidas como que por uma onda. Ele se impressiona por eu ter conseguido um lugar tão legal para morar, eu ia lhe contar sobre os vizinhos, mas acabei deixando para lá. Mostrei para ele que parte daquele jardim suspenso dava em movimentadas avenidas de mesmo nível, mas com grades enormes em volta.

Nisso lembro-me da namorada de meu amigo e vou verificar se ela achou a saída, desço as escadas que dão para a saída, ao final delas encontro:
– John Entwistle!!! – eu grito, era o baixista da minha banda favorita, com sua famosa roupa de esqueleto.
Ele se movia para uma fila onde todos me olham estranho após esse grito.
– Foi uma piada, eu sei que ele morreu – tento eu disfarçar.
Nisso vejo que naquela fila todos parecem roqueiros e nela vejo a beleza de Mick Jagger nos anos 60, aquilo me deixa atordoada, mas ele some... Procuro a saída com mais vontade, subo e desço escadas, tenho a impressão que eles me seguem, mas eles não estariam mortos?! Em uma das escadas que subo a mulher me diz que a saída é para cima, eu subo até lá, a escada se bifurca, nada tem fim, cada vez mais pessoas estranhas pelo caminho, quando chego ao fim, somente um chão de pedra, a única saída talvez fosse pular e morrer, como em Abre Los Ojos, grande filme...
Percebo que assim como no filme é tudo um grande sonho. Tal como em Alice, John seria meu coelho, o hotel seria meu Overlook rockstar, isso é o que dá ler dois livros de Stephen King de uma só vez.

De qualquer forma estava longe de meu Overlook com suas escadas e colunas de estilo grego, tudo em cor marfim.