segunda-feira, 19 de julho de 2010

Re-cycle

Estava a reviver tudo aquilo, o que eu quis por muito tempo, mas escolhi pela sanidade, pela razão. Mas em meu sonho eu corria para o abismo, para sentir aquele vento em minha face, para sentir aquela liberdade, aquele perigo encantador da descida. Jurei por muito tempo me afastar de tudo aquilo, mas lá estava eu de novo.

E o telefone toca, toca na mesma hora que todos os dias, não sei porque da insistência no mesmo horário que o resto da semana, nem tarde, nem cedo, mas na parte mais emocionante do sonho. Fico aliviada em acordar, mas a dona da casa não está, não tenho motivos para atender. Não quero mostrar meu mau humor matutino para o telemarketing.

Saio de casa e sonho me acompanha o dia inteiro, como se eu revivesse tudo aquilo que me afastei por tanto tempo e assim conseguir me libertar. Todo esforço parecia agora inútil, mas logo eu esqueço de tudo isso de novo.


Obs: O título desse texto tirei do nome de um filme, o qual parece meio tosco de inicio, mas que a história toma um rumo bem interessante. O que me chamou a atenção foi a capa surrealista dele. Em português o nome ficou com Assombração, provavelmente a pessoa que traduziu só viu a parte tosca do filme, mas lhes garanto que não tem nada a ver.
Fica como dica para essas férias chuvosas.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Falecido marido

Que saudades sinto de meu falecido marido.
Sentir o frio do cobertor gelado, passar as noites ajunto ao travesseiro me traz nostalgias imensas.

As noites que costumavam ser acompanhadas de uma bela taça de vinho tinto, de declamações de poesias em torno da lareira no inverno, não mais existem, minhas noites se tornaram vazias e tristes. Ele se foi cedo, com seu corpo jovem e até então cheio de vida. Lembro-me como se fosse ontem... Em uma noite quente de verão ele nu a observar a luz dos carros à meia luz da rua... Seu corpo remetia-me a uma estátua grega... Seu corpo pálido e magro remetia-me aos romantistas e eu ficava a inventar poemas, os quais escondia por seu alto teor sexista. Lá estava ele a segurar seu cigarro, de forma impositiva, de um jeito meio junkie remetendo-me a vários homens sexys desse gênero... Não gostava do cheiro do cigarro, mas o jeito que ele o segurava era incrível.

Porem essa beleza auto-destrutiva o levou de mim para o Olimpo, pra nunca mais voltar.

Agora só restam saudades em minhas noites frias...
As vezes surpreendo-me enganando-me, com a ilusão de que ele fora apenas comprar cigarros e nunca mais voltou. Ás vezes sinto que ele forjou a morte apenas para me ludibriar, pois as vezes quando estou só a andar pela cidade sinto seu cheiro e não vejo ninguém por perto.