sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Análise de Caso / Há tempos

“Eu não tenho tempo!
Ele não é meu e nunca será de minha posse.
Será que ele me tem?!
Só sei q ele some, evapora furtivamente,
é altamente volátil.”
Havia escrito há algum tempo atrás.

Continuava sendo verdade, continuava aflita por nada conseguir fazer e ser diariamente engolida por esse grande desconhecido. Até o dia em que finalmente compreendeu sua patologia: Criará uma imagem irreal, apaixonou-se por ela.  

Assim como nos desenhos animados, só caiu após ver que pira em falso. Até então estava tudo certo, exceto pela mania de acreditar no pior. Seu lado pessimista torcia pelo fracasso apenas para dizer: “Lhe avisei”.

Passado o tempo, descobriu que se apaixonara pelo impossível, apaixonara-se pelo Futuro. Acreditava não possuir o Presente, acreditava que nunca daria certo com esse, enquanto este era o único que sempre estivera a seu dispor. Enquanto isso, ela buscava incessantemente o Futuro que nunca olhou para trás enquanto ela o perseguia.

 Mantinha também um relacionamento aberto com o Passado, sendo, no entanto algo mais físico, no qual não conseguia resistir a todo aquele alinhamento, aquela postura esguia, seu extenso vocabulário e toda erudição e formalidade.

Até que enfim viu que o Futuro era nada mais que um escape, um escape para um lugar distante, onde via projetada alguém que não era ela, onde seu pensamento adito insistia em estar, insistindo em não ver o Presente.

Percebera: Não adiantava em nada gostar do Futuro, era inalcançável, só lhe frustrava, estava viciada nessa frustração, na verdade usava essa desculpa para não se entregar ao Presente, mentia para este, mentia para si mesma.

Despediu-se de todos,
Especialmente de sua melhor amiga,
Amiga de longa data,
Velha e fiel Ansiedade
Assim resolveu aceitar o Presente.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Miopia

De tanto olhar para o micro
Deixará de compreender o macro
De tanto olhar no microscópio
Não reconhece mais os de sua própria espécie
Esqueceu de quem seria
Como um ser em sua totalidade.
Compreendia as micromoléculas,
Mas não compreendia sua própria conformação
Compreendia Neurobiologia
Não compreendia o que pensava

Buscava evidencias apoiadas em dados
Buscava confirmação por análises estatísticas
Não acreditava nem que sua existência
poderia ter resultados significativos
Com o passar do tempo,
Desenvolverá miopia.
Se concentrado no que poucos contemplavam
Não conseguia admirar aquilo que lhe cercava.

A beleza que se dissipava em meio a todos
Não percebia a beleza que em torno de si existia
Aquela a qual auxiliava compor
Em todo seu esplendor e harmonia
Apenas vultos e artefatos compreendia.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Seguia

Seguia ela o caminho,
Já não sabia mais para onde ia,
Não mais lhe conhecia
Seguia só,
Seguia com um alguém,
Seguia com outro

Ninguém entendia
O que ela fazia
O que ela queria
Nem ela mesma

Seguia por ruas vazias
Seguia por estradas de chão
Seguia por vilarejos
Ouvia sons, mas não os compreendia
Ouvia passos, mas estava sozinha
Amava seu delírio
Não era correspondido

Delirava então que amava
Quem?
Ela não sabia
Sentia-se então culpada