domingo, 21 de agosto de 2011

Domingo

Dia cinza, frio, chuvoso, sonolento,
Típico domingo, 
Conversas que não se desenvolvem, 
Tão logo são abortadas espontaneamente.

Janela embaçada escondendo nossa própria solidão,
Escorrendo como o tempo.

Nosso tédio interior e falta de vontade de mudar,
A falta de ter uma opção para telefonar 
E com ele dividir um vinho ou um capuchino. 

Nosso e, ao mesmo tempo, apenas meu.

As pessoas bem vestidas passeando sob o forte vento
Tentando esconder atrás de tanta roupa e maquiagem
O seu eu devastado e sonolento.

Vão ao shopping preencher-se com futilidades,
Ou assumem sua condição e
Dormem ignorando a existência
Assumindo suas fraquezas.

Dividimos as mesmas concepções,
Mas não mais o mesmo recinto.

A umidade diluindo a essência; 
Deixando-nos aguados... 
Nada inesperado.
Mais um dia sem novidades, 

mais um dia almoçando as três da tarde.

Cair da noite

E então
A depressão instantânea
Véspera de segunda-feira,
Onde a solidão torna mais reclusa,
Escondida dentro de cada ser,
Que diz bom dia.

domingo, 7 de agosto de 2011

A Epístola

Deu-me vontade de enviar-lhe esta epístola
Para que ela esteja aonde não pude estar,
Para que ela seja tocada e sentida por ti,
Para que ela se misture as suas coisas
E seja guardada em um canto obscuro,
Mas não perdida,
Para que ela leve uma parte de mim...
E esta, esteja contigo.

Tentando que esta leve tudo que eu sinto,
Faça-me esquecer tudo isso,
Que me perturba noite e dia.

Para que essa parte de mim,
Seja, dentro da gaveta, esquecida.

Seja reencontrada em alguma limpeza
E dela surja apenas um sorriso,
Como quem acha algo há muito tempo guardado,
E se lembra de um tempo que não volta mais.

Que fique ela junto aos teus livros,
Junto com a inspiração dos mortos,
Que em mim tu tornaste viva.

Entretanto, está carta não tem endereço,
Seu destinatário será apenas algum canto na minha gaveta:
Um lembrete para parar de agir como uma idiota.

Poderia apagar-te de todas as lembraças
Todos aqueles pequenos detalhes,
Os quais insistem em debochar de minha atual situação.

Mas de nada adiantaria,
Minha própria mente iria continuar
A sabotar-me diariamente.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A Viagem

Faz tempo que ele se foi... As coisas mudaram tanto, entretanto, ao mesmo tempo parece que toda a minha vida continua a habitar de forma cíclica aquele mesmo dia, aqueles mesmo minutos de eternidade até hoje.  A questão de como tudo seria hoje se eu não tivesse o deixado ir, faz-me sentir como se ele continuasse aqui.  Queria falar com ele, na verdade já havíamos conversado sobre isso tantas e tantas vezes... A questão é que desde que ele foi embora vivemos nossas vidas como se aquilo jamais tivesse acontecido, exceto eu.

A maioria das coisas se apresenta apenas uma única vez, a pressão para tal acaba por fazer parte da escolha, dependendo da personalidade de quem decide. A oportunidade de acontecer algo se apresenta e se despende, e por mais que pense a respeito, nunca saberemos ao certo o que teria sido melhor. Aceitamos o presente então de forma consoladora e passamos a fingir acreditar que realmente era para ter sido assim. Aceitamos o presente e agradecemos com um sorriso mais forçado do que o de costume, agradecendo sempre simplesmente pela data não ter passado em branco.

Às vezes um não é mais tranqüilizante do que a angustia de não saber, as duvidas sempre trouxeram muito progresso, mas pelo fato de elas serem de fato incômodas... Então tentamos entender tudo, porém, nem tudo cabe a nós entender, nem tudo nos é aceito ou compreendido, comigo geralmente apenas um desde. Comigo sempre o conflito eterno do lobo frontal com o sistema límbico, onde sempre haverá um perdedor que jamais esquecerá sua derrota.

 Conversamos a respeito, conversei mesmo já sabendo a resposta, resposta puramente racional, as perguntas puramente emocionais. Mas ao final, um quase empate, nenhum deles ficou extremamente frustrado, ambos gostaram de alguma parte da conversa, apesar do saldo negativo ao menos a dúvida e a ansiedade foram sumindo, juntamente com a chuva e a louca vontade de correr pelas ruas sentindo-a sob meu corpo e inundando minha alma, até a exaustão, a fadiga muscular, a dor, mas, ao mesmo tempo, toda endorfina, por fim o dormir no asfalto e o acordar com pneumonia e dor nos ossos e articulações.


No fim nada mais que memórias e algumas poucas certezas.
Afinal é a memória que torna viva muitas coisas que sem ela não existiram mais.

Estado de espirito: tal e qual uma obra de Edward Hopper.