sábado, 29 de dezembro de 2012

Os Fins

"A escória da vida cotidiana transformada em ouro fino"
Erderby sobre sua poesia

Primeiro fim de ano longe do mar
- ao menos dentre os quais sua mente consegue recordar-
assiste o escoar gelationoso da cidade
derretendo sobre o imenso calor
dissolvendo sua intensa movimentação
escorrendo serra abaixo
esfriando-se assim a cidade fria, frívola, fria.

Em um pedalar gotejante
sente por completo.
Em meio ao silencio e a calmaria
nunca estiveram assim sozinhos
aprecia o atrito com suas curvas sinuosas
seus altos e baixos desliza

Já não pensa em nada,
tudo em pausa,
inércia programada,
ócio solicito

[...]

Carta de alforria
Papeis assinados
Certidão de óbito entregue
após anos de burocracia e prolixidez 
enfim eutanásia

Sentia-se como Rosemary ao comemorar
em silencio a maioridade de seu filho
livre para o mundo escravizar
o criou com zelo, não teria coragem de matar
comemora em silencio irresponsável
irremediável
no entanto, não poderia mais ser responsabilizada
não era sua culpa.

[...]


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Reencontro


Um longo olhar disfarçado de descaso,
Uma breve despedida, um fracasso disfarçado
A verdade ríspida escorria pelo canto da boca
A ressaca dolorosa inunda a cabeça de lembranças
De um merlot a um gin
De uma esperança incrédula
de um passado que se propagará até o fim

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Per te

Para ti, o melhor e o pior de mim,
O que de mais valioso poderia lhe oferecer?
O que de mais profundo e profano?
Ofereço lhe simplesmente meus pensamentos,
meus ócios, meus devaneios, uma companhia
e uma certa boemia,
O que poderia lhe dar de mais valioso
do que meus momentos de solidão
querer dividir aquilo não se toca.


domingo, 9 de setembro de 2012

Eriçar


Sentiu arrepiar a nuca desnuda,
a embalar os curtos fios de cabelo despenteados. 
Um odor peculiar; 
algo entre hortelã canfora e ozônio; 
sugeria um frescor levemente incomodo, 
mas há muito aguardado. 
O vento modificava a paisagem,
os grãos de areia colidiam com as panturrilhas,
se mostra favorável
a partida, 
a novos rumos.

Içar ancoras!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Para o Passado - Ausente Presente -


O céu escurecia escarlate, a chuva regava o mar truculento, que tudo trazia. Exceto aquele que a partida me entristecia. Há muito cansada de esperar, noites perdidas ao luar observando o barulho, ouvindo o escuro, coração em intenso palpitar; 

taquicardia ao ritmo de fantasias, lembranças quase esquecidas de um passado quase vida, quase real. Não o via, mas o sentia, o vento a envolvia, excitava seus mamilos.
Frio doído, úmido e envolvente, cantarolando aquela canção onipresente. Embalando sua mente, acariciando seus longos cabelos negros. Areia entre os dedos, vento nas costas desnudas, cicatrizes exibem-se na ágora vazia, acariciadas levemente encobertas pela água salgada. Ela mergulha e o reencontra na profundeza silenciosa, fria e infinita.

sábado, 25 de agosto de 2012

A Brisa Avisa


Então a chuva começou a derramar voluptuosamente sua torrente de águas ardentes, arrepiantes, ardias e ariscas, tudo estava desculpado, tudo estava lavado, perfumado pelo ozônio, purificado de dentro para fora. Tudo, todas as paisagens eram cinema, preto branco, eterno e clássico. Clássico como ele, clássico como não era meu personagem.


Lésbica maconheira designer deslisava ziguesagendo, deslisando sobre o asfalto molhado, contemplando a curvatura das sinapses, livre rente ao solo, prestes a levantar voo... Tudo estava perdoado, nada necessitaria ser cancelado. O tempo já o fizera por ti, oh nobre criatura, angélica e alada, nos encontraremos em alguma viagem por terras distantes.

Nada precisava ser perdoado.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Convite

Calmaria, sol, vento, concreto, equilíbrio, rua, movimento - simples seguia. O som é interrompido, telefone toca. Ouve-se a proposta, procura-se uma desculpa para não aceitar, não encontra, não vê motivos para não entregar-se, convence a si mesmo a entregar-se.
Vento, sol, BR, movimento, foge rapidamente da rotina, deixa o concreto pela areia, desce a serra, reencontra o ar.

domingo, 22 de julho de 2012

A Grande Tela

Olhava para mim,
nada poderia fazer, 
nada estava sob meu domínio, 
apenas sentir e sorrir.

Olhava as gotas no copo de conhaque.

A câmara se move,
sou cinegrafista:
Movimentação intensa, entropia.
O coração sempre começa ser auscultado
no além infinito gira o mundo som
alguém volta a falar,
não mais o coração,
mas dos Beatles, uma canção.

Let's draw
Epifanias
Clarice Linspector.
Kafka, 
Baratas, Musica eletrônica
Beatles

A câmara faz ahsim


Musica
Conversas alternadas
Palavras
Chamam o gato

Fala-se e vê-se o mundo 
como um espectador
HD 3D
mas não era a marionette perfeita

O gato Pula Psicodélico (pSicodélico)

Stgent PePPere chimarrão


Hoje foi muito mais rio grande,

narguiLI - desastre LI

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Algumas linhas

Noite fria, cama vazia, cheia de pensamentos,
Isenta de gemidos, ensurdecedores urros do mais brando silencio.
Ia escrever, mas me deu preguiça.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Café preto sem açúcar


Era ansiosa
As vezes
As coisas
eram como café:
deliciosas, fortes, intensas
quando quente,

porém...
[...]

No entanto,
Estava se curando
Isso também estava
passando lentamente
por entre o filtro
com água quente

Corria-se o risco de transbordar,
de borbulhar e queimar
aquele que ousasse experimentar
no impeto flamejante
chafurdar

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Feira do Escambo

"Feira do Escambo:
Uma vez por mês 
no nosso pátio da reitoria."
Obs.: Estanho habitat de sutis e surrais criaturas.


Trocou seus escritos
por três caixas
de citalopram

Trocou seu amor
por uma quantidade razoável
de pessoas
simples,
porem sinceras

Trocou o medo do relógio
por segundos eternos
em cima de uma montanha,
na beirada da cama

Trocou suas dúvidas
por dívidas
pagas em cerveja
divido por todos igualmente
tanto o pagar,
quanto o tomar,

Trocou seus escritos  frios, solitários, planos em papel pálido
por companhias homeotérmicas, quentes, coradas de carne e osso,
com curvas, cores, vãos, declives, textura.



Tive medo de te esquecer,
Tive medo de parar de sentir,
Lembrei-me que estava a me divertir
Voltei a meus afazeres.

domingo, 22 de abril de 2012

Quebra do Silêncio


Disse aquilo que não deveria o grito que obstruía minha fala e se quedava silencioso a brandar em minha alma. Preferi dizer sabendo que iria doer e inflamar, no entanto, inflamação aguda, que tende a se regenerar em algum momento, melhor do que essa inflamação crônica do silencio que fica me destruindo de forma silenciosa, que nunca vem à tona, que corroí por dentro: o pior dos males da caixa de Pandora, a Esperança. Ela em sua forma latente, cega, surda e muda.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

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Poderia na não-existência o vazio existir?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Arrepio

Finalmente um primeiro contato, leve afago, continuação exponencial; do simples tocar, quase sem querer, a cena é cortada para um beijo; ao mesmo tempo que os lábios se encontram ela sob sobre seus quadris; movimentos pélvicos pronunciam detalhes das cenas vindouras.

Após tanto tempo a trocar de olhares, tantas declarações no silêncio, tudo virava concreto, tocável, moldável... Os sussurros substituíam as palavras, a respiração seguia no ritmo descompassado das mãos que exploravam o desconhecido.

A cena muda novamente. 
Seguem par a o quarto, iluminação baixa, suficientemente apropriada. As roupas a caírem no chão de modo dessincronizado, a pressa expansiva maestra a cena. O parnasianismo afasta-se e esconde-se não há porque buscar o belo, simplesmente por ele. Buscam o sentir e não mais admirar, toda a estética dá lugar à profundidade.

Caem as roupas, assim como eles, da cama, a embriaguez joga seus efeitos sob a atmosfera, o cair não interrompe o acontecer, estende-se sob ele, encoberta, encobre.  A temperatura aumenta, os sussurros tornam-se urros, a garrafa de vinho é entornada, abre-se a janela. A lua ilumina as faces enrubescidas, e da mesma forma dessincronizada tudo recomeça  como se fosse o primeiro encontro, então se repete, repete, reee-pete, reptee... repet...

Passeio noturno e cambaleante sob a lua, sobre as ruas, pelos bares. 
Só então o cair dos olhos, o desmaiar do corpo, um sobre o outro.

Pico de cortisol, os olhos abrem, recomeçam os encontros. O mito é comprovado de modo suave, com resquícios do vinho, notas de empirismo e discordâncias. Breve momento no qual o tabu é quebrado e palavras prounciadas;
-Você havia se planejado para isso?
-Não, apenas sonhado.
Nada mais precisava ser dito, eram apenas sussurros


Foto: Martin Kovalik
Um dos meus favoritos

sábado, 17 de março de 2012

Escritos

Esse fim de noite, 
esse fim de dia,
essas histórias
cismam em não terminar.

Tudo que ronda minha mente,
 finge estar em meu coração.

Saudades de ti inexistência criada sordidamente sobre o idealismo de meus devaneios.
Escrevo o que se encontra no passado imerso em meus pensamentos, se este fosse presente, se fosse palpável apenas viveria, quando este não me é possível torno a transcrever.
Isso explica um pouco dos assuntos com um fim já delimitado, contidos em si e em minhas memórias, as quais são estas a única prova de tal existência, prova esta altamente refutável daquilo que há muito já não existe senão na mente de quem o cultiva.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Emêse

Fadigado,
insiste em andar em círculos,
a vertigem lhe alucina,
Confere-lhe perda
de toda e qualquer clareza.
Fala sozinho,
respondido pelo eco do lugar vazio.

Esse estado ébrio
conferido pela sobriedade do ser.
Sabia não ter saída;
Tarde demais,
Estava adita.

sábado, 10 de março de 2012

The Naked Reading



Devorava escritos,
como quem literalmente come
devorava as palavras rapidamente para saciar a fome,
outrora degustava lentamente.
Sempre procurando um chocolate em meio à despensa,
Buscando, no entanto, um meio amargo ou com pimenta.

Foto retida de  Obvious, um olhar mais demorado
Vale a pena ler do que se trata


segunda-feira, 5 de março de 2012

Discussão de Gênero

Cortaria meu clitóris para me afugentar destas dores
Abnegaria dos prazeres carnais
para ser tratada com um pouco mais de respeito
Um pouco menos de mentiras
Um pouco menos de machismo

Garotos de esquerda fascista,
Que se dizem feministas
Conheci alguns,
Apaixonei-me
Perdidamente
Doce utopia ao deslizar por entre as minhas pernas
Doces lábios que saiam do discurso e embalavam meu imaginário

Palavras belas, escolhidas para demonstrar maior erudição
Sempre garotos da área de Humanas,
Humanos, demasiadamente humanos
Ser desumano:  típico dos ser humano
Nunca entendi a Etimologia

Aquele estudante de comunicação que se calou
Para mim para todo o sempre
Foi quem me conduziu ao psicólogo e ao psiquiatra
Pensei que estaria passando dos limites ao sentir tudo aquilo
Queria um anestésico forte

Ele se calou em repudio as minhas palavras grossas
Ao meu escárnio, sarcasmo e ódio incontidos
Passei a pensar que a culpa era minha
Ele poderia dilacerar minha alma,
Eu assim havia permitido,
Ele era inocente,
Nada que eu havia falado fazia sentido
Não deveria tê-lo xingado

Mas melhor manter-se calado,
Assim ninguém mais é enganado,
Tal como ela havia sido
Eu seria a próxima da fila

Aquele outro pregava o amor livre,
Queria um relacionamento aberto,
Falava de feminismo.

Adentrei um relacionamento aberto onde
Ele pensava que só ele era inseguro
Onde eu era a vadia, prostituída
Onde ele poderia amar duas
E ele não se continha
quando eu conhecia
outros lábios
Todos parecem iguais,
Direita ou esquerda
Ele me disse não perceber seu machismo
Eis o problema da acomodação

domingo, 4 de março de 2012

As Badaladas

Nas madrugadas
envoltas pela ressaca,
dor de cabeça,
peso na consciência,
reconsidera-se a 

existência,
véspera de dia útil,
cabeça não descansa
a torrente de idéias
desconexas afoga
o ser humano.

Revirava-se na cama, levantava, tropeçava,
pisava sob os pensamentos coerentes,
batia o dedo no tocante,
chafurdava-se
no
interior de
seus monstros.

Escondidos
debaixo
da cama,
dentro
do ser
Prestes a
explodir,
prestes a
enlouquecer.

Suas vontades profanas a cercar sua vida;
busca escritos,
busca outras vidas

Espelhar-se e tentar dividir o peso da existência com desconhecidos,
apoiar-se sobre o frágil. Pisar sob cacos de vidros pensando se estes, pelo menos por esta única vez poderiam ajudar
a sustentar
o corpo
frágil e fraco. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Novo Layout

A mudança se deu, pois pensei que seria melhor ter uma imagem mais autoral no título do blog, acabei por mudar o fundo e essa versão ainda não está bem fechada. 
O que acharam?

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Anatomia


Passado alguns dias em uma cafeteria escondida,
um pouco de verde em meio ao cinza, 
onde eles eram os únicos a falar uma língua latina
surge um tema da consistência do ser humano:
não compreendia a beleza envolta em 
um corpo sem vida, envolto em resina.
Dissecação anatômica perfeita,
mostrando cada detalhe ignorado
sob o manto da pele.

Aquilo somos nós, aquilo era o que ignorávamos pedaço protéico a se decompor lentamente, nossa glicerina: nossa vida a qual tentava resistir com mais flexibilidade ao passar do tempo.

Tocando e espalhando-se na matéria sobre a gélida mesa de metal espelhamos e contemplamos a beleza e desenvoltura da morfologia deste animal chamado o homem.

Não compreendia a beleza do cadáver aquele que nunca se debruçou sob o corpo cadavérico de um desconhecido, amou aquele que se cedeu além vida para o desenvolvimento cientifico ou lamentou o passado daquele pobre indigente de estomago atrofiado.

Nunca gostou das aulas de anatomia, o formol irritava a mucosa nasal e seus olhos lacrimejavam. Enquanto todos tratavam aquilo como uma peça, ela ficava a pensar sobre as reflexões que haviam habitado a juventude daquela hemicabeça, talvez o formol fosse mera desculpa.


Créditos da  foto
Obvious: um olhar mais demorado 
Ótimo blog por sinal

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Manhã de Sábado

-Bom dia...
-Bom dia...
-...
-zzzz....
-Não vais levantar?
-Sinto não possuir forças.
-Hm.

Começava-se o dialogo mudo entre dois quase desconhecidos, mente ainda adormecida, tentando refazer os caminhos da noite anterior. Dialogo com meias palavras, conduzido de modo pausado, sussurrado, desritmado, descompensado, arrastado, esbarrando entre os lábios que tendem a se fechar, de modo a fazer companhia aos olhos. O sol de sábado iluminava minimamente o quarto, iluminava o corpo pálido com ossos proeminentes.

O protocolo fora quebrado, deveriam levanta-se e despedir-se. Ficou lá, o tempo a transcorrer. Ela resolve colocar um sobretudo e ir a farmácia, sai então de modo indiscreto, sobretudo frente ao sol, chinelo, resquícios de maquiagem da noite passada, cabelo despenteado, exalando a fumaça de cigarros alheios diluídos em suor e fluidos. Olhar desinteressado frente aos olhares de reprovação. Pega um pacote grande de preservativos e uma escova de dentes, sem cerimônias, paga, guarda no bolso e volta pelo caminho em seu andar rastejante sob as havaianas que quase se perdem pelo caminho.

Lá está ele do modo como o deixou.
-Comprei isso aqui... Faça favor de usá-los já que vai ficar ai... -  Diz ao colocar sob a escrivaninha.
-Hm...
-Vai comer?
-Não, não precisa. Não consigo sair daqui...
-Vou pedir comida para a gente então.
-Não tenho dinheiro.
-Eu tenho... Não dá nada.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Garoa e Vinho Tinto



Voltei, o silencio permaneceu
Ficara para sempre em seus lábios

Ao contrário de mim

Não se pronunciara no inicio
Calou-se para sempre ao chegar o fim

E assim tudo acabou como se nunca houvesse existido
Como um devaneio unilateral mantido em segredo eterno




Créditos da Foto
Modificado de
http://www.saopaulo.sp.gov.br/bancoImagens/albuns/7010/_d30075.jpg

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O silencio ocupa a alma, o branco encobre o papel, os músculos fadigados recusam-se a tecer mais uma história. De repente não há mais o que falar. Por quê? O que mudou? Ao pensar sobre isso me lembrei de seus escritos... Sinto antiga palpitação, assunto antigo, no entanto a euforia repete-se como da primeira vez. Por que não aceitas de uma vez? Por que não consegues conviver com isso? Por que não paras? O que tem você? Começas a perder-te no meio de toda insanidade, começa a delirar como Raskólnikov, começa a compreender Werther. Não, nunca acreditou que tudo aquilo foi amor, era apenas uma idéia fixa. Muitas pessoas morrerem disso, uma lástima que a elas não cabem as estatísticas. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Metacromasia

Não tocou no assunto, o silencio falou por si, em um dialogo contido e sem respostas, um monólogo de drama e suspense.

O admirar, o fingir não notar, eternidade efêmera a transcorrer com leve som externo a se mover.

Som este tão singelo perto do estrondo tempestuoso que ocorria em sua mente; torrentes de pensamentos inundavam o ser... Assim como as tempestades estes também possuíam seus admiradores e sua beleza eterna e pesada, levando consigo tudo, arrasta e carrega, envolve e afoga.

O impulsionar sem se envolver ― não gostaria de ser este a puxar o assunto, fingiu não coordenar, dizia nada haver preparado, mas tudo estava lá, minuciosamente preparado, nem mesmo a fotografia não poderia ser mais propicia.

Observavam de cima o movimento insano de todas aquelas pessoas apressadas que buscavam chegar na hora para seus compromissos, assistiam a todo o tumulto sem o menor envolvimento; contemplavam de cima todas as preocupações dos seres humanos ― doce ilusão que uma bela imagem poderia criar.

Bela imagem de pano de fundo para ouvir um não que viera de longe para receber, gostaria de ouvi-lo logo em seu primeiro dia e tudo poder então esquecer, o discurso ensaiado saiu como se não houvesse sido praticado, a ação ecoou sem direção, perdeu-se a ligação dentre eles. Assim a cena se eternizou, no entanto o “não” mesmo não havendo sido pronunciado iria ecoar mudo em um futuro.

Mítica garoa caia fina na noite espessa molhava as faces enrubescidas, assim como os lábios envoltos pela frieza da garrafa que transbordava vinho tinto. A temperatura caia, por mais que existisse calor em seu interior; o frio congelava as mãos e arrepiava levemente a epiderme.

Em uma teimosia perversa típica insistiam em mostra-se mais forte que o clima, mantinha-se paralisados no mesmo banco, prosseguiam sóbrias as conversas ébrias sob a fotografia sombria em tons quentes.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Últimas Notícias

Não passou na mídia de massa:

“Mais um massacre:
 Inocente esvaindo em sangue, seu crime: ter lutado por um direito básico o direito básico de ter um teto. Morreram estes em prol do direito de uns e outros encherem o c* de dinheiro.”

A matéria continuava com seu falatório mudo:

“Quem decidiu sobre a vida ou a morte daqueles? O Estado. Quem financiou o aparato? Eu você, e todos nós. Pagamos impostos para ajudar no financiamento do massacre de nossos irmãos de luta. Governante, cristão, de boa família repousa sob o travesseiro após engolir almas e escarrar sangue na cara do povo.
Reza a lenda que seu partido havia sido contra a ditadura, grande novidade...  A Direita de hoje era a Esquerda de ontem; a Esquerda de hoje são aqueles poucos que lutam para conquistar o poder e então poderem se corromper.”

Lembrará disso em seu passeio matutino, lembrara com um hibrido de velha memória, devaneio, embriaguez e cansaço; esforçara-se, mas o franzir do cenho em nada a auxiliava em remeter suas memórias. Acendeu o cigarro, o levou á sua boca empalidecendo o batom vermelho em seus lábios, escurecendo seu pulmão, pouco a ela restava, era o ultimo dia de sua vida, era o ultimo dia da vida de todos aqueles que a cercavam e de todos aqueles os quais não tivera oportunidade de conhecer, de amar, de odiar, ou de em sua vida passar sem nada alterar. Havia decidido contemplar a humanidade, sair vestindo nada embaixo de um sobretudo, coturno  desamarrado com meia 7/8 rasgada. Escolhera o visual de modo a não perder seus últimos minutos com futilidades como roupa, e ao mesmo tempo parecer elegante ao esperar pelo grande show.

Milhares de gerações haviam clamado por este momento que ela estava prestes a presenciar, a pauta máxima comunista e anarquista: o fim de uma sociedade desigual estava anunciado para aquele fim de tarde. Por ironia daquilo que não existia, o chamado Destino, isso se daria com o fim da raça humana, patrocinada pelas grandes empresas, grande show com fogos de artifício, whisky sem gelo, full HD, transmitida para todo o mundo, enfim luzes, explosão, camarins de pessoas famosas, os bastidores dos famosos.

Quem assistiria tudo aquilo? Era o fim do mundo, quem estava se importando com televisão? Aqueles que se deliciavam com o cortar das linhas que os prendiam como marionetes, enfim estariam livres da escravidão, pena que por tanto tempo, ao menos tinham o que comemorar, era a primeira vez em toda a história da humanidade que os menos favorecidos teriam seus primeiros e últimos minutos de liberdade suprema. Aguardavam como condicionados estavam: em frente à TV só assim saberiam o momento exato.

Ela passava e observava todas as TVs ligadas, todas em um mesmo canal sintonizadas, por mais que em todos os canais passem a mesma coisa, a prioridade continuava sendo a mesma.

Era o fim de tudo, e tudo seguia seu rumo até lá, esforçavam-se todos em prol de manter tudo nos conformes, manter tudo como sempre se lutara para manter, tudo igual, transcorrendo por inércia. Manter a rotina e os conformes era o ultimo desejo dos poderosos, os donos da festa niilista.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ócio da Madrugada

Fim de um dia de verão, por entre a escuridão chagada à hora de seu encontro com a solidão, na hora marcada, madrugada, imensa nesta, ao tatear depara-se com silencio. A temperatura se torna enfim mais amena, a tranqüilidade imunda a sala; a cidade que não dorme estava agora a tirar o sono dos pacatos moradores das pequenas litorâneas.

Sabia que muitos possuíam modo similar de aproveitar seus dias dedicados única e exclusivamente ao ócio, invertendo os dias abafados pelas noites serenas.

Lembrou-se então de inúmeras conversas ínfimas adentrando madrugadas sobre assuntos profundos tratados de forma simples e cotidiana. Acompanhou o movimento de chegadas e saídas, observou pela janela que inúmeras pessoas compartilhavam de sua insônia voluntária.

Liberdade detinha agora para estudar aquilo que não alimentará o corpo e sim a alma; momento de voltar à essência e buscas novas filosofias, rever questões políticas, apaixonar-se pela literatura. Apaixonar-se pela inconstância, aprender a praticar o desapego. Voltar a interessar-se por assuntos antigos. Reencontrar a paixão pela existência e pelo existencialismo, deixar de lado o niilismo cotidiano.

Desprender-se, o corpo se mantém em seu lar, a mente não mais está. Fez então um café, acende a luz, empunhou a caneta em sua mão e começa a redigir madrugada adentro. É bom estar de volta.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Azul

Azul é a única coisa que eu tenho daquela época... 
Eu já não tenho mais o mesmo sorriso.
A beleza deste já desbotou como meu vestido.
Assim tudo se acabou,
pensando eu que nada tinha mudado
exceto a minha forma de ver as coisas. 

Azul para ingleses: tristeza, 
para os alemães: alegria, 
Para mim: nostalgia 

daquele olhar sarcástico e desinibido.


Obs.: texto datado de um longinquou período, sendo que não mais destes sentimentos compartinho, apenas da memória de um tempo não esquecido.