domingo, 22 de janeiro de 2012

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Não passou na mídia de massa:

“Mais um massacre:
 Inocente esvaindo em sangue, seu crime: ter lutado por um direito básico o direito básico de ter um teto. Morreram estes em prol do direito de uns e outros encherem o c* de dinheiro.”

A matéria continuava com seu falatório mudo:

“Quem decidiu sobre a vida ou a morte daqueles? O Estado. Quem financiou o aparato? Eu você, e todos nós. Pagamos impostos para ajudar no financiamento do massacre de nossos irmãos de luta. Governante, cristão, de boa família repousa sob o travesseiro após engolir almas e escarrar sangue na cara do povo.
Reza a lenda que seu partido havia sido contra a ditadura, grande novidade...  A Direita de hoje era a Esquerda de ontem; a Esquerda de hoje são aqueles poucos que lutam para conquistar o poder e então poderem se corromper.”

Lembrará disso em seu passeio matutino, lembrara com um hibrido de velha memória, devaneio, embriaguez e cansaço; esforçara-se, mas o franzir do cenho em nada a auxiliava em remeter suas memórias. Acendeu o cigarro, o levou á sua boca empalidecendo o batom vermelho em seus lábios, escurecendo seu pulmão, pouco a ela restava, era o ultimo dia de sua vida, era o ultimo dia da vida de todos aqueles que a cercavam e de todos aqueles os quais não tivera oportunidade de conhecer, de amar, de odiar, ou de em sua vida passar sem nada alterar. Havia decidido contemplar a humanidade, sair vestindo nada embaixo de um sobretudo, coturno  desamarrado com meia 7/8 rasgada. Escolhera o visual de modo a não perder seus últimos minutos com futilidades como roupa, e ao mesmo tempo parecer elegante ao esperar pelo grande show.

Milhares de gerações haviam clamado por este momento que ela estava prestes a presenciar, a pauta máxima comunista e anarquista: o fim de uma sociedade desigual estava anunciado para aquele fim de tarde. Por ironia daquilo que não existia, o chamado Destino, isso se daria com o fim da raça humana, patrocinada pelas grandes empresas, grande show com fogos de artifício, whisky sem gelo, full HD, transmitida para todo o mundo, enfim luzes, explosão, camarins de pessoas famosas, os bastidores dos famosos.

Quem assistiria tudo aquilo? Era o fim do mundo, quem estava se importando com televisão? Aqueles que se deliciavam com o cortar das linhas que os prendiam como marionetes, enfim estariam livres da escravidão, pena que por tanto tempo, ao menos tinham o que comemorar, era a primeira vez em toda a história da humanidade que os menos favorecidos teriam seus primeiros e últimos minutos de liberdade suprema. Aguardavam como condicionados estavam: em frente à TV só assim saberiam o momento exato.

Ela passava e observava todas as TVs ligadas, todas em um mesmo canal sintonizadas, por mais que em todos os canais passem a mesma coisa, a prioridade continuava sendo a mesma.

Era o fim de tudo, e tudo seguia seu rumo até lá, esforçavam-se todos em prol de manter tudo nos conformes, manter tudo como sempre se lutara para manter, tudo igual, transcorrendo por inércia. Manter a rotina e os conformes era o ultimo desejo dos poderosos, os donos da festa niilista.

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