quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Encontro boêmio

Ela era loira, tinha o cabelo curto daqueles sob medida para poucas mulheres de coragem, um cabelo loiro com um corte fácil de arrumar. Estava sentada próximo à porta do bar, extremamente arrumada usando um vestido preto colado de um material reluzente, algo entre o vinil e o couro, de um gosto um tanto quanto sadomasoquista, ostentava um sapato de salto agulha o qual alongava ainda mais suas pernas.

Tudo isso me deixava com um insistente pensamento: O que estaria uma pessoa com toda essa elegância em um bar vagabundo onde se vende bebida batizada e só aparecem pessoas estranhas? Ela parecia estar no local errado, esperando pela pessoa errada. Demonstrava sua raiva contida ao olhar para a porta como um olhar superior, tal qual de uma juíza a dar um veredicto. Minha intenção era ir lá e puxar um assunto, mas o último cara que foi falar com ela saiu disfarçando a vergonha e as lágrimas.

Sinto então raiva de não saber desenhar, a qual vez que outra me aflige profundamente. Se soubesse reproduzir aquela imagem que observei a noite inteira teria uma obra prima. Fotografia também seria uma ótima forma de guardar o momento, e uma ótima forma de morrer também, discreta como só eu sou.

Quando o bar estava quase fechando fui embora sem saber o final daquela história da mulher que esperava sem ter horas, esperava incomunicável, sem celular, sem bolsa e nem mais nada. Que apenas esperava tomando um copo de água. Acho que no fundo ela tinha o mesmo perfil dos freqüentadores do bar, só eu que tanto olhei que não percebi.

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